Smells Like Teen Spirit?

geannemoreiras
4 min readApr 21, 2021

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Diga-me quem você é. Essa frase ressoa em minha cabeça. Não é como se dançássemos no Tiktok enquanto uma música aleatória, que nem conhecemos, tocasse ao fundo e algumas frases soltas surgissem em nossas telas. Não é fácil estar no mundo, conquistar o seu pódio e mesmo assim sentir como se não pertencesse a lugar algum.

Era tudo mais fácil quando a gente sabia direitinho o roteiro a seguir e em que direção virar. Mas quando se quer mudar um destino, aquelas rotas todas, placas e setas nos deixam sem chão. Era simples quando eu sabia qual o grupinho bobinho que me encaixava, o dos esquisitos impopulares que sentavam sozinhos na arquibancada da escola doida que frequentava. Seria esse meu lugar eterno? Talvez ainda tenha o cheiro do desodorante adolescente que insiste em me acompanhar.

Sinto falta de ficar escrevendo em um papel qualquer e simplesmente ignorar todo mundo porque não sentia vontade de socializar, e honestamente nem precisava. Não é como se eu fosse a garota mais bonita da escola e todos quisessem falar comigo, então aproveitava a minha aparente invisibilidade e nem tentava estar em um grupo. Mesmo que algumas pobres almas caridosas insistissem em acreditar nas minhas falhas habilidades de se comunicar e interagir. Estava bem escrevendo, queridos.

Havia razão para que eu fingisse ser legal? Lógico que não, é difícil sustentar máscaras e essa nunca foi minha prioridade. Apesar disso eu tentava ser agradável, essa deve ser a palavra que mais se encaixa, já era insuportável ter que lidar comigo, imagina com toda aquela insanidade que é tentar entender o outro. Enquanto isso eu dizia a mim mesma que não precisaria me preocupar com isso, apenas chegar até a maldita escola, sentar e repetir mais um bilhão de vezes a minha cara preferida de não me importo.

O mais surpreendente é que ninguém realmente notava como aquilo tudo para mim era desgastante. A minha bolha era muito forte e impenetrável, não conseguiam vencer o conforto dos meus pensamentos e de como gostava de ficar reclusa comigo mesma. Apenas uma pessoa conseguia chegar perto, entretanto, não tão perto demais. Haviam limites.

Daí você sai dessa merda toda achando que nunca mais vai precisar passar por isso e, de repente, bate na sua cara um negócio chamado responsabilidade chata de adulto, e uma delas é a maldita socialização, Lidar com o outro, ter que se envolver emocionalmente, isso é tão desgastante para mim. Nunca que isso será algo fácil e normal, a minha bolha só aumentou durante esses anos. E tento lutar para não estar em grupo nenhum, porque não sei lidar nem com a minha pessoa.

E seguimos sem saber muito bem para onde iremos. Os caminhos tortuosos dessa vida são indescritíveis. A água turva que chega à margem de nossos delírios cotidianos, deixa vestígios do quão despreparados somos. Não é como se eu não soubesse nada, mas sinto que isso de me encaixar nessa engrenagem é algo totalmente destoante do que aprendi com meus livros e filmes favoritos. Sigo com espírito rebelde, que detesta fingir afeições, carisma e carinho.

Deveria não ter tantas reclamações, todavia pensar dessa forma me blinda de cair na armadilha de não saber mais quem sou. Inevitavelmente, gosto de me sentir única, apesar de ser uma cópia barata qualquer de algum personagem que inconscientemente estou tentando imitar.

Reflita, precisamos mesmo pertencer a tantos grupos, seguir essas normas chatas que inventaram, ter que estar presente em tantos lugares, ter que dizer como nos sentimos para pessoas que não fazem parte de nossas vidas, apenas dividem o mesmo espaço de trabalho? Eu preciso mesmo dizer quem sou? Para que exatamente? Por que há necessidade de se falar tanto sobre si? Por qual razão todos simplesmente apenas exercem suas funções e param de criar expectativas sobre a vida alheia?

Isso é um delírio meu, porém, imaginem como a vida seria muito mais descomplicada? Chegar naquele lugar e não ter que comentar sobre nada, ser você apenas, sem precisar pesar ações e palavras. Sem ter que lidar com julgamentos aborrecidos de pessoas que estão presas na adolescência. Não queiram classificar esse comportamento como infantil.

Observem as crianças e vejam como elas não precisam ficar se explicando sobre suas escolhas. Elas decidem, executam, pensam, ficam próximas em silêncio, separadas, mas não solitárias. Elas também são livres para dizer não, Dizem não para tudo, que mundo perfeito e acolhedor o infantil. Sentam no chão sem preocupações sobre normas, roupas sujas e etiqueta desnecessária. Dividem sem pensar se vão receber algo em troca. Lutam pelo o que julgam merecer. Elas não se acanham com o não adulto. Simplesmente são elas mesmas sem justificativas tolas.

Desligaram nossa praticidade e sutileza, restando apenas preconceitos, grades e regras obsoletas. Lamentável. Esse é o peso de crescer querendo se encaixar? Ou seria o cheiro adolescente que acompanha os adultos de hoje? Apesar desse teatro todo, ao final do dia, somos meros solitários que jamais poderão pensar e se expressar de forma diferente do grupo que diz pertencer.

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